A Fiocruz prevê que só deve entregar no início de março as primeiras doses da vacina de Oxford/AstraZeneca produzidas no Brasil, já que a chegada de insumos da China atrasou. A promessa anterior, feita no final de dezembro, era fornecer o primeiro lote do imunizante por volta de 8 de fevereiro.
O novo cronograma consta em um ofício da fundação encaminhado, nesta terça (19), ao Ministério Público Federal, que acompanha e apura as estratégias de vacinação contra a doença. O documento foi obtido primeiramente pelo jornal Estado de S. Paulo e depois pela reportagem. O adiamento já havia sido adiantado pela coluna Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo.
O texto de pouco mais de uma página, assinado pelo diretor do Instituto Bio-Manguinhos, Mauricio Zuma Medeiros, foi uma resposta a um ofício do procurador federal Marcos Alencar Friaça que questionava sobre as datas de entrega das duas milhões de doses prontas que serão trazidas da Índia e da outra parcela que será processada no Brasil pela Fiocruz.
A previsão da fundação é que o IFA (ingrediente farmacêutico ativo) – material necessário para fazer a vacina produzido por uma parceira da AstraZeneca na China – chegue no próximo sábado (23), mas ainda é necessária confirmação. A importação, que inicialmente estava prevista para dezembro, depende da liberação do país asiático.
Após a chegada do insumo, a Fiocruz diz que ainda será preciso mais de um mês para o fornecimento das vacinas, já que, depois de produzidas, as doses ainda terão que passar por testes de qualidade. Estima-se que esses testes levem 17 dias, somados a mais dois dias de análise pelo INCQS (Instituto Nacional de Controle da Qualidade em Saúde).
Isso se a matéria-prima chegar no dia previsto e se a qualidade do imunizante for aprovada. Caso contrário, o prazo pode se esticar. “Estima-se que as primeiras doses da vacina sejam disponibilizadas ao Ministério da Saúde em início de março de 2021, partindo da premissa de que o produto final e o IFA apresentarão resultados de controle de qualidade satisfatórios, inclusive pelo INCQS”, diz trecho do ofício.
Ainda segundo o documento, os lotes de IFA devem chegar em 30 remessas, com intervalos de duas semanas. Eles serão suficientes para produzir os 100,4 milhões de doses prometidas até julho pela fundação, que afirma já estar com uma linha de envase pronta para entrar em funcionamento.
Sobre as duas milhões de doses prontas que estão na Índia, a Fiocruz responde que ainda não é possível precisar a data de envio. “Isto porque, embora a carga contendo essas doses já esteja disponível, negociações diplomáticas entre os governos da Índia e do Brasil ainda se encontram pendentes de ajuste final para autorização do processo de envio”, diz.
O lote foi uma estratégia frustrada do Ministério da Saúde para antecipar o início da imunização. Nesta terça (19), o ministério das Relações Exteriores da Índia informou que começará a exportar vacinas nesta quarta (20) para seis países da sua região, portanto, que não inclui o Brasil.
O ofício da Fiocruz diz também que o trecho do contrato com a AstraZeneca que prevê a transferência de tecnologia para que a vacina de Oxford seja inteiramente de produção nacional está sendo revisado, sem dar mais detalhes.
“Em razão de ajustes necessários de ordem técnica, a minuta do Contrato de Transferência de Tecnologia está sendo revisada pelas partes, havendo previsão de sua assinatura até meados de fevereiro”, afirma a instituição.
Após a divulgação do documento, a Fiocruz disparou uma nota à imprensa dizendo que segue com o compromisso de entregar 50 milhões de doses até abril deste ano, 100,4 milhões até julho e mais 110 milhões ao longo do segundo semestre, totalizando 210,4 milhões de vacinas em 2021.
A fundação reforçou que, “embora ainda dentro do prazo contratual em janeiro, a não confirmação até a presente data de envio do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) poderá ter impacto sobre o cronograma de produção inicialmente previsto de liberação dos primeiros lotes entre 8 e 12 de fevereiro”.
Também disse que o cronograma de produção será detalhado assim que a data de chegada do insumo estiver confirmada. A instituição vinha mantendo silêncio na última semana diante do risco da produção da vacina contra a Covid-19 atrasar por falta de matéria-prima.
Assim como a AstraZeneca, a instituição tem negado pedidos de entrevista e não tem respondido a perguntas sobre os problemas que tem enfrentado para o início do processo.
Vacina AstraZeneca/Oxford – Foto: John Cairns/University of Oxford/AFP